Felipe Machado on Wed, 22 Feb 2006 19:47:32 +0100 (CET)


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[nettime-br] Paralelas que se encontram (ainda sobre sistemas paralelos)


Salve,

O texto FOME E TECNOLOGIA é ótimo!
eu li, se não me engano, no site do projeto ACORDA POVO, do pessoal da
Nação Zumbi, parece que está fora do ar... não achei mais.
Está também no portal manguebit.org.br, mas o link tá caindo...

Enfim, segue abaixo outro texto {Paralelas que se encontram} que
encaixa bem na sequencia... Não que reflita minha opinião, mas tem
tudo a ver com o tema proposto pela Giseli. Tem umas coincidências
engraçadas, porque eu defendi o não-paralelismo a favor de uma visão
mais holística, aqui no entanto o não-paralelismo é defendido como
algo mais cético. E vamos botando lenha na fogueira, caranguejos com
cérebro !

abraços!

Felipe Heder Machado, el RU!DO




Paralelas que se encontram

O futuro não está à venda no camelódromo. Quem nos avisa é Renato L

Por Renato L


Poucos intelectuais brasileiros têm uma visão tão arejada da música
popular como Hermano Vianna. Autor de dois estudos culturais clássicos
ligados ao tema, ambos transformados em livro (O Mundo Funk Carioca e
O Mistério do Samba, editados pela Jorge Zahar), ele transita com a
mesma desenvoltura pelas pistas de dança de São Paulo e as rodas de
coco de Alagoas. E mais: agitador incansável, assina, também, roteiros
de vídeo, programas de tv, textos para jornais e revistas e curadorias
de festivais, caso da primeira edição do TimFestival.


A última colaboração na grande imprensa desse antropólogo nascido em
1960 na Paraíba, morador de Brasília por longos anos e carioca por
adoção desde 78, foi publicada no caderno Mais da Folha de São Paulo,
no domingo 12 de Outubro. Intitulado A Música Paralela, o artigo trata
do chamado "tecnobrega" e a economia informal que o envolve. Essa
música, centrada no Pará, é executada nos bailes e clubes de Belém em
gigantescos sound-systems denominados de "aparelhagem". A parte
eletrônica do rótulo surge por conta do uso mais e mais intensivo dos
computadores para fabricar canções românticas como as de Reginaldo
Rossi, Amado Batista e similares. Por trás da farta produção,
encontramos um circuito de camelôs, rádios e tvs locais e fã-clubes
que funciona através de padrões dissociados dos dominantes nas grandes
corporações do show-business.

O artigo de Hermano apresenta a cena e faz o elogio da economia
informal que a cerca, vista –como outras próximas - com potencial para
"inventar as novas formas caóticas – no bom sentido! – de civilização
do futuro". Escritos com fluência e leveza também pouco encontrada nas
universidades, os parágrafos nem se querem adesistas, nem muito menos
apocalípticos diante das transformações em curso. É aí, no entanto,
que as peças da engrenagem parecem engasgar e um estranho "noise" nos
força a ressalva crítica.

Não conheço o tecnobrega, nem muito menos Belém do Pará. Conheço, no
entanto, como morador da "cidade dos mascates", o mundo da economia
informal, aquele dos sem carteira assinada, sem plano de saúde, sem
seguro-desemprego, sem férias, sem décimo-terceiro e todos os outros
direitos conquistados com muita luta nos tempos da economia fordista,
tempos que, evidentemente, não voltarão. O otimismo de Hermano, se,
por um lado, apreende o potencial criativo embutido nos circuitos
não-oficiais, por outro parece minimizar os efeitos dramáticos da
precarização do emprego, da evaporação dos direitos básicos e de
outros fenômenos da débâcle capitalista, em especial nos países que
sofreram o colapso de seus processos de modernização. Descontadas, é
claro, as limitações trazidas pelo espaço exíguo de um artigo de
jornal, seu ponto de vista corre o risco de parecer simplificado,
quase cor-de-rosa, edulcorado.

O mundo da economia informal não está "descolado" das esferas da
economia "oficial", pelo contrário, sob muitos aspectos é apenas seu
reflexo degradado. Quando, por exemplo, Hermano afirma que "até as
roupas que os bailarinos usam são compradas...em feiras nordestinas,
em circuitos totalmente "off-ICMs", involuntariamente talvez se refira
a produtos gerados em fábricas que usam trabalho infantil ou escravo e
que, dado essencial numa visão mais à esquerda, continuam
comercializados na forma de mercadoria. Esquecer esses nada
insignificantes detalhes pode , numa caricatura exagerada, mas com
fundo de verdade, produzir uma mágica capaz de transformar o camelô de
discos piratas, trabalhando de sol a sol sem qualquer garantia, em
portador das boas-novas, espécie de novo cavaleiro da esperança. Se
assim é, se muitos acreditarem no truque, então que se comece a rezar
por nós...


http://salu.cesar.org.br/manguetronic/servlet/newstorm.notitia.apresentacao.ServletDeNoticia?codigoDaNoticia=153&dataDoJornal=atual

(da rádio Manguetronic - http://salu.cesar.org.br/manguetronic)
Lá tem muitos textos ótimos....
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