Almandrade on Sat, 31 Aug 2002 18:06:01 +0200 (CEST)


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ACIDENTES ECOLÓGICOS:  TRISTE DIVERTIMENTO

Os inúmeros desastres ecológicos que vem conduzindo o mundo a um estado
melancólico, não passam de discursos que se acomodam tranqüilamente no
cotidiano da mídia. A preocupação com o meio ambiente, com o equilíbrio
ecológico é objeto de vários discursos da cultura dominante, mostrando as
agressões e os perigos que nos ameaçam como uma naturalidade da era
industrial. Ou um acidente apenas desagradável. Essa racionalidade que rege
o progresso do mundo moderno desprezou a afetividade como uma referência
para a convivência das pessoas e estabeleceu uma dicotomia entre o homem e a
natureza.

 O meio ambiente nos meios de comunicação  vive sua "oralidade", mas longe
da reflexão, as questões passam para o plano do discurso, mantendo a
natureza como produto de consumo. A fala sobre a preservação da natureza é
filtrada por interesses políticos e econômicos. Existe um cuidado da mídia
em mostrar e investigar a realidade espetacularizando-a e disfarçando as
causas principais. Fazendo do espectador um voyeur  romântico de um
divertimento triste. Nossa paixão é canalizada para saber mais sobre o fato,
a denúncia, o esclarecimento minucioso e histérico da verdade, e não para
reagir ao fato. O humor da sociedade capitalista se apropria de tudo,
inclusive dos protestos e dos discursos sobre as agressões ao meio ambiente,
para seu próprio gozo ligado ao lucro e para disfarçar responsabilidades.

São irreversíveis os danos ecológicos e acabam por apressar o tempo do
próprio homem. A estupidez da economia  moderna em pensar o homem como
exclusivamente força de trabalho, sem sentimento e sem emoção substituiu o
desejo pelo desejo de consumo e conseqüentemente a psicologia dos sujeitos.
Nunca se falou tanto sobre meio ambiente e passivamente estamos assistindo
os desastres ecológicos como um acontecimento ou um destino histórico, isto
é, como se o modo de produção, o modelo de desenvolvimento econômico e os
interesses de classe nada tivessem a ver com os fatos em questão.

Almandrade
(artista plástico, arquiteto e poeta)



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